Terra Sigillata nº1; nº3;
nº9; nº10; nº12; nº18 . 1982-2023 - Colagem de guardanapos e toalhetes de papel e vários
papéis manuscritos por Mário Cláudio
As obras resultam de uma interpretação
abstrata de Rui Aguiar com o resultado da atividade diária do escritor Mário
Claúdio. Na sequência visual do movimento inicial da escrita nasce uma
composição concebida através da colagem e dobragem dos manuscritos do longo
poema “Terra Sigillata”. Uma Colagem com papeis, guardanapos e toalhetes de
papel manuscritos. Materiais que são usualmente destruídos após a publicação da
obra literária e que neste caso servem como base para uma intervenção plástica.
Trata-se de um exemplo de um trabalho
que afirma a nobreza dos materiais do quotidiano e a circunstância do
nascimento de uma obra artística, caraterísticas intrínsecas a todo o percurso
de Rui Aguiar. Simultaneamente, é um exemplo da cumplicidade que tem
existido entre estes dois criadores portuenses, ambos com uma atividade
artística intensa e significativa desde os anos 60 até aos dias de hoje.
Em 1982, Rui Aguiar criou 18 obras
para uma exposição de um “conjunto arqueológico” invulgar, composto por
manuscritos manuseados de formas distintas (exposição “Terra Sigillata -
Arqueologia de um poema”, Porto, Cooperativa Árvore). Em 2023, as obras são
alvo de uma ação de recuperação, e em algumas situações (obras mais degradadas)
de reinterpretação por Rui Aguiar, de modo a serem expostas na Casa das Artes,
na cidade do Porto, na exposição intitulada “Poetas Mal Copiados”. Esta ação teve a colaboração da associação
COARA.
O percurso artístico de Rui Aguiar é
marcado durante a sua primeira década de trabalho, por obras com colagens e com
materiais de uso frequente no nosso dia-a-dia aos quais confere uma dignidade
própria e um universo estético. Uma atitude transversal a toda a sua obra
independentemente das técnicas mais ou menos inovadoras que experimentou.
“Os seus quadros são a exaltação do
objecto arrancado à sua função quotidiana e chamado a desempenhar um papel
dialéctico no diálogo das formas.”, refere José Maria M. França em “ A alegria
das coisas simples”, 1972.
“Na obra de Rui Aguiar, o acto de
extrair dos hábitos diários, lições de expressão artística, constitui um dos
seus elementos mais marcantes”, afirma Laura Castro, Diretora Regional de
Cultura do Norte, no texto “Derivas sobre uma obsessão tranquila”, 2005.
“Cidade: vinheta de torres e mapas, por dois querubins escoltada. Auréola de camélias maceradas.” Excerto do Poema “Terra Sigillata” de Mário Cláudio